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tim fuck festival versão para jornal

novembro 10, 2007

Pedreira lotada como em 86
Mais uma edição do Tim Festival motiva 27 mil pessoas a assistirem a etapa curitibana do evento

Para mim foi muito mais uma questão de sobrevivência. Para fãs, deve ter sido o melhor show da noite. A islandesa Björk foi a segunda a se apresentar em Curitiba no dia 31 de Outubro, no “evento do ano” Tim Festival. A produção da cantora mostrou-se bem mais afiada que a do Tim: enquanto sua performance impressionava a massa, um número considerável de pessoas ainda aguardava na fila para entrar na pedreira Paulo Leminski, local dos shows. Erro da organização, que abriu os portões apenas uma hora antes da primeira banda, Hot Chip, começar a tocar. Estava do lado de fora e não vi, mas ouvi comentários etílicos de que “definitivamente era eletrônico”. Sobre a Björk é que não há muito que falar a não ser: go back to Islândia. Para quem não era fã (e não viu Hot Chip?), deve ter sido o pior da noite. Fiquei por lá comendo club sociais inacabáveis que estavam sendo distribuídos para o público do festival. Dava até para escolher o sabor.

Os ingleses do Arctic Monkeys subiram ao palco depois de um intervalo infinito em que a estrutura da popstar islandesa foi desmontada com som ambiente de suas próprias canções. Cada vez mais pessoas entrando, ainda remanescentes da fila. “A pedreira não lotava assim desde Ramones em 86”, exagerou alguém, sem nem saber se esse era o ano certo da apresentação a que se referia. Com um set coeso, de “clássicos” dos dois álbuns, os Monkeys animam, mas não tanto. Falta movimento no palco. Há quem diga que o baixista tocava com play-back. Sabe, eles nunca tinham parecido tão ingleses no youtube quanto agora em um palco curitibano. O vocalista Alex Turner parava o show para falar com os outros membros da banda e ensaiar algumas palavras com a platéia. Esse inglesinho veio lá da Inglaterra até aqui para afinar guitarra? Nos melhores momentos eles parecem uma mistura de todo o rock anterior: punk, pós-punk, Led Zepelin, Beatles, Strokes – algo extremamente contemporâneo, embora não novo. O baterista é o que mais impressiona, musicalmente falando. Um dia antes vi esse moleque em uma balada, pouco mais velho que eu e agora a gente aqui, chamando ele de gênio. The view from the afternoon é o ápice dele. Talvez um dos ápices da apresentação, junto com a explosão de Dancing shoes, as pops I bet you look good on the dancefloor e Fluorescent adolescent, e From the Ritz to the Rubble. Em Fake tales from San Fransisco, aquela da linha de baixo à la Champignon, os gritos foram de Charlie Brown! Charlie Brown! Já conhecíamos essa de tempos. Nessas horas é foda ser brasileiro e só poder ter visto esse show hoje com outras 27 mil pessoas. Em pequenos pubs ingleses o som do Arctic Monkeys deve ser potencializado de uma maneira absurda.

O que nunca aconteceria com o Killers. Grandioso e opaco, bonito e brega, o show dos americanos foi feito para palcos grandes. Brendan Flowers consegue agarrar a platéia e segurá-la firma, mas às vezes exagera. Deve ter assistido Mick Jagger e Fredie Mercury demais. Também, em uma banda em que o baixista parece um Carpenter que não interage com o show e o baterista toca com uma roupa de Harry Potter e o guitarrista parece tanto o Keith Richards que não tem vergonha de imitá-lo descaradamente, todas as atenções restam para Flowers e o seu ego – que é imenso. Faltava espaço para o vocalista do Killers. O palco precisava ser no mínimo três vezes maior para agüentar um rock tão de arena e um vocalista tão confiante de si mesmo, que enchia a pedreira toda e chegava a incomodar um pouco. O repertório do Killers, no palco, parece um costurado de hits: todas as músicas tem um grande potencial pop, até culminar em Somebody told me, que parece feita apenas de refrões. Toda aquela massa pulando e gritando as letras infantis do vocalista e compositor e quem se importava com isso? Eles também parecem uma bandinha de formatura qualquer – que é onde devem tocar em Las Vegas, cidade natal da banda. Antes de arremessar flores, Flowers até ensaiou um coro com a platéia. Depois de gastar aparentemente toda a munição (Somebody…, When we wer young, Read my mind, Mr. Brightside) a banda deixou o palco, mas como era óbvio para alguém com tanto amor ao próprio umbigo, retornaram para tocar mais. Mais um hit, só se for. Uma hora eles acabam.

Fim do espetáculo, a multidão que se contorcia no rock’n’roll agora anda calmamente para os portões de saída. Alguns vão pegar ônibus para voltar direto para sua cidade, em outro estado talvez, outros, de Curitiba mesmo, esperar um ônibus para casa. Ou brigar por um táxi. A concorrência é difícil, braços se levantam ao menor sinal da cor laranja, mas não, não estamos em Nova Iorque. Em Curitiba é preciso chamar um táxi pelo telefone, mas os números estão todos ocupados. Ironicamente, conseguimos o caro à moda nova-iorquina. Fomos para o pós-tim no (demasiado) pop James Bar. Lúcio Ribeiro, que escrevia uma coluna de cultura pop na Folha On-line e hoje tem um blog pela IG, estava lá cuidando da música. Tiozinho, barriga de cerveja, camisa pólo e aliança no dedo, olhando meio que distraidamente para os CDJ. No som um eletro pesado, o bar indie parecendo uma rave insana. Devia ser o melhor lugar para acabar a noite depois do Tim. Não existe hype às cinco da manhã; só existem bêbados às cinco da manhã.

(publicado no joral Zero, do curso de jornalismo da UFSC – inclusive com os erros de digitação)